Construção de 150 x 32 metros, em Quedas do Iguaçu. Custo maior é superado na produção.
Engenharia triplica a capacidade de alojamento de pintainhos nos aviários. Objetivo é diluir custos e aumentar a produtividade.
12/05/2009 | 00:15 Deonir Spigosso, correspondente em Pato Branco
Quedas do Iguaçu - Surge um novo modelo de aviários no Paraná. São estruturas gigantes, com 150 metros de comprimento por 30 da largura. Alguns produtores, ainda mais ousados, erguem galpões de até 155 x 36 m. O modelo padrão utilizado pela maioria das integradoras de aves não passa de 125 x 14 m. O projeto de engenharia se destaca pela capacidade de alterar metragem lateral, atingindo a largura de três aviários.
Se no sistema padrão são alojadas entre 17 a 20 mil aves, nos mega-aviários a capacidade salta para até 90 mil. Sem as linhas divisórias no centro da estrutura, que é suspendida por vigas reforçadas de concreto, a área de circulação das aves aumenta. A inovação desafia a prerrogativa dos sistemas tradicionais de alterar somente a metragem do comprimento dos aviários, e aparece como uma alternativa para reduzir custo e aumentar produtividade.
Fotos: Deonir Spigosso
Evandro dos Santos: “Conseguimos revolucionar a avicultura, equacionando questões logísticas e aumento de produção”
A idéia, novidade no Brasil, foi desenvolvida em Quedas do Iguaçu, Oeste do estado. O primeiro aviário com esse novo porte foi construído em 2007, em Espigão Alto do Iguaçu, município vizinho, medindo 150 x 30 m. Hoje, há cinco em funcionamento e outros seis em construção no Paraná.
O responsável pelo projeto, Evandro Carlos dos Santos, de Quedas do Iguaçu, que também é avicultor, atua em parceria com Osstap Andreiv, atual prefeito de Espigão Alto do Iguaçu. Ele explica que a idéia foi motivo de chacota no início e que agora passou a ganhar o respeito dos avicultores. Embora sejam poucos os aviários em funcionamento, Santos afirma que o sistema veio para ficar. “Minha preocupação era garantir melhor retorno aos avicultores. E o que conseguimos foi revolucionar a avicultura brasileira, equacionando questões logísticas e aumento de produção.”
Tecnologia
Os aviários são montados com a mesma tecnologia e automação das estruturas tradicionais, com um diferencial na ventilação. “A nossa preocupação estava em encontrar um mecanismo que mantivesse a mesma qualidade de ventilação, em um ambiente bem maior. Tive que buscar alguns equipamentos nos EUA para dar conta”, frisou. Para evitar perdas com quedas de energia, cada aviário gigante possui um gerador alternativo.
O gerente de expansão e integração da Frangos Canção na região de Cianorte, Aginaldo Bulla, que possui um aviário de 140 x 32 m no município de Indianápolis, conta que nos dois primeiros lotes aprovou o novo sistema, mas que ainda é cedo para falar em resultados econômicos. “O que posso dizer é que a nova técnica oferece viabilidade de criação. Com o tempo veremos como será o comportamento médio dos lotes.”
Coasul
O projeto agradou alguns diretores e técnicos da Cooperativa Agroindustrial do Sudoeste do Paraná (Coasul), em São João, no Sudoeste do Paraná, que está construindo um frigorífico. Dos 13 primeiros que estão sendo implantados com recursos dos integrados e da própria cooperativa, três são de 150 x 36 m. “A proposta é aumentar o número de aves por metro quadrado sem problemas de desenvolvimento”, comenta o gerente de Fomento Agrícola da cooperativa, Juarez Carlos Gobbi.
O Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) não coloca restrições. Em nota, a entidade apenas alerta para o cuidado com as aves. “Não existe nenhuma legislação que determine um tamanho padrão (com medidas máximas e mínimas) para a construção de aviários. O tamanho da estrutura irá variar de acordo com a capacidade econômica de cada proprietário. No entanto, é importante salientar que o aviário deve primar pelo bem-estar do animal, dando totais condições de ambiência para a ave.”
Grande também no preço: R$ 750 mil
Como toda inovação, os aviários gigantes também apresentam algumas dificuldades, principalmente no valor do investimento. Uma vez que praticamente todos os equipamentos dobram de proporção, e o sistema de cobertura precisa ser reforçado, o custo de cada aviário gigante pronto pode ultrapassar R$ 750 mil. O valor é superior ao de dois aviários no sistema padrão. Mas quando comparado à capacidade de alojamento, o custo pode cair em torno de 15%. O problema é que a liberação de financiamentos para tal investimento precisa de mais garantias. A solução pode estar na formação de condomínios de produtores, com as depesas divididas proporcionalmente ao resultado. Para investimentos no setor, algumas instituições financeiras liberam crédito com juros em torno de 6,75% ao ano (crédito rural).
Essa é a conta que o inventor Evandro dos Santos fez quando colocou o projeto em prática. Segundo ele, o alto investimento é mais fácil de ser custeado do que o sistema padrão. “As duas aves a mais por metro quadrado – ganho do novo sistema – possibilitam um retorno adicional por lote de R$ 2.600, que no final de um ano equivale a cerca de R$ 20 mil a mais na produção de frangos. Se a média dos lotes se mantiver, em sete ou oito anos a estrutura está paga.”
O setor
Em 2008, o Paraná produziu, segundo o Sindiavipar, 1,22 bilhão de cabeças de frango. No primeiro trimestre de 2009, os abates somaram 286.659.159 cabeças. O estado tem uma participação expressiva no mercado internacional. No ano passado, os embarques de carne de frango atingiram 915,4 milhões de quilos, com um resultado em faturamento de US$ 1,62 bilhão. No último trimestre, o acumulado somou US$ 277 milhões.
O estado é o maior produtor e divide a liderança nas exportações com Santa Catarina.